foto: Pedro Santana

sábado, 16 de janeiro de 2010

Diário da enchente: bastidores

     Morar uma semana na região alagada do extremo leste de São Paulo, na várzea do rio Tietê. A ideia da chefia do Jornal da Record chegou à equipe de produção numa sexta-feira à tarde. Ao contrário dos demais veículos de comunicação - que passavam pelo local, cobriam a tragédia e iam embora -, o objetivo da Record era eliminar o olhar externo e fazer um verdadeiro exercício antropológico: vivenciar os dramas enfrentados pela população. Os editores-executivos disseram que eu tinha sido escolhido para organizar a cobertura. Levei um susto, mas abracei o projeto.



     No mesmo dia, peguei um carro e fui até o Jardim Romano, pertencente ao Jardim Pantanal, uma das regiões mais afetadas pela enchente de 8 de dezembro de 2009. Liguei para uma líder comunitária que aceitou me guiar pelas ruas durante a minha primeira missão: alugar uma casa para a equipe de reportagem. Cheguei à região por volta de 18hs. Como as imobiliárias já estavam fechadas, abordei os moradores e bati de porta em porta atrás de um local seguro. Fechei negócio apenas no sábado, quando encontrei um quarto e um salão na parte superior de um sobrado, na rua Capachós. Depois de ter determinado onde seria a base de nossa equipe, percorri a região para ter uma ideia das dificuldades. A água do rio Tietê – misturada ao esgoto – encobria parte da rua. Também entrei em contato com outros líderes comunitários e com a polícia para que a equipe não corresse nenhum risco durante a estadia.

Contato com os novos moradores
      Na segunda-feira, toda a equipe passou a morar na região. Junto comigo, estiveram o repórter Lúcio Sturm, o cinegrafista Sandro Henrique, o auxiliar Glauco Dória, o motorista Santos e os seguranças Leandro e Jorge. Também contamos com o apoio do cinegrafista Silvio César e do auxiliar Chiquinho. Durante a semana que vivemos lá, encontramos histórias marcantes. Foi impossível não se sensibilizar com o sofrimento dessas pessoas, como a dona de casa que chegou a comer carne de cobra, os moradores de barracos na várzea do Tietê e as crianças doentes.
      Como produtor das matérias, eu me preocupei muito com o enfoque das reportagens. Além de registrar o drama das famílias, procuramos manter o espírito crítico e questionar as autoridades. Afinal, o poder público foi o principal responsável por aquela situação, ao permitir a ocupação irregular em toda a faixa de várzea do Tietê. Um dos exemplos mais absurdos é a construção de um CEU (Centro Educacional Unificado) exatamente ao lado do rio. A escola ficou totalmente alagada. Carteiras e outros móveis foram perdidos. Numa das primeiras visitas do prefeito Gilberto Kassab ao local, perguntei a ele se o prédio não tinha sido um desperdício de dinheiro público. Ele concordou que a construção realmente foi um erro, mas botou a culpa na gestão anterior, que concebeu o projeto. Kassab só não disse que a administração dele concluiu as obras, em vez de tê-las interditado.



Visitas inesperadas
     No segundo dia de matérias, a população do bairro já sabia que éramos os mais novos moradores do Jardim Pantanal. A concorrência também ficou alerta. Produtores de outro canal chegaram a sondar a mesma senhora que alugou a casa para nós.
     Sempre que íamos para a rua gravar, a população nos procurava e nos chamava pelo nome. “Rafael, você tem que mostrar isso”, “Lúcio, venha ver a minha situação”... Alguns moradores chegaram a nos fazer visitas inesperadas, em frente de casa. Um dos vizinhos era uma menina de 12 anos que trouxe uma carta. Nas linhas quase ilegíveis, ela pedia uma casa a Gugu Liberato. Outras pessoas também trouxeram cartas endereçadas ao apresentador. Quando nossa equipe voltou à Record, entreguei os papeis à produção do Gugu.
     Deixamos o Jardim Romano após a edição de sexta-feira, 18/12,  do Jornal da Record. Foi uma experiência importante para a equipe e, especialmente, para mim. Eliminamos o olhar distante e, às vezes, frio da reportagem convencional e fizemos uma incursão no dia-a-dia da população humilde do pantanal paulistano. Colocamos o pé na lama, entramos em contato direto com a comunidade e pudemos entender, de forma abrangente, um dos graves problemas sociais brasileiros.



                                                                                            Foto: Julia Chequer / R7.com


        Veja as reportagens exibidas no "Jornal da Record":
        (não tenho o link da matéria veiculada na segunda-feira, 14.12) 

Terça-feira, 15.12.09

Quarta-feira, 16.12.09

5 comentários:

  1. Muito legal o relato. Adorei o blog e espero saber mais sobre os bastidores de futuras reportagens.
    abs,
    M. Aldano

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  2. Parabens pela iniciativa, Rafa! Já é um sucesso.

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  3. Eu moro em ladeira e aqui não deu enchente mas eu fico imaginando o drama das pessoas que estão vivendo com os pés na água o dia todo e ainda têm que aguentar a lentidão da prefeitura em tomar uma providência, e ainda por cima fica jogando a culpa nos outros.
    Parabéns pelas reportagens!

    Beijos

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